Cuidados com Rendimentos de Aplicações Financeiras na Pessoa Jurídica: Como Evitar Erros Fiscais e Otimizar o Planejamento Tributário

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Nos últimos tempos, empresas vêm sendo notificadas pela Receita Federal sobre a falta de recolhimento de impostos relacionados aos rendimentos financeiros, especialmente devido a cruzamentos de informações com a DIRF. Com a operação “Fonte Não Pagadora”, a Receita visa identificar omissões no pagamento de tributos sobre investimentos financeiros. Para evitar problemas fiscais e autuações, é crucial que as empresas compreendam a tributação e os cuidados necessários ao lidar com rendimentos de aplicações financeiras.

1. Tributação de Aplicações Financeiras em Empresas

Lucro Real

Empresas tributadas no regime de Lucro Real enfrentam uma série de obrigações fiscais relacionadas aos rendimentos financeiros. Além da tributação do Imposto de Renda (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), há incidência de PIS e COFINS sobre essas receitas financeiras.

  • PIS (0,65%) e COFINS (4%) incidem sobre o total das receitas financeiras, como juros de aplicações de renda fixa e variável, rendimentos de fundos de investimento e variações cambiais, conforme o Decreto nº 8.426/2015.
  • IRPJ e CSLL: A alíquota de IRPJ é de 15%, com adicional de 10% sobre o lucro que exceder R$ 20.000 por mês, enquanto a CSLL é de 9%.

Cuidados: A empresa precisa registrar todas as receitas financeiras na contabilidade para garantir o correto cálculo e pagamento dos tributos. A falha na declaração pode resultar em penalidades severas pela Receita Federal.

Lucro Presumido

Empresas no regime de Lucro Presumido possuem um tratamento diferente em relação aos rendimentos financeiros:

  • Não há incidência de PIS e COFINS sobre receitas financeiras, exceto em casos especiais, como operações de hedge.
  • No entanto, as receitas financeiras são incluídas na base de cálculo do IRPJ e da CSLL, com alíquotas semelhantes às do Lucro Real (IRPJ de 15%, adicional de 10%, e CSLL de 9%).

Cuidados: Mesmo sem PIS e COFINS, as empresas no Lucro Presumido precisam garantir que rendimentos de aplicações financeiras estejam corretamente incluídos na base de cálculo de IRPJ e CSLL, respeitando o regime de caixa (tributação no momento do resgate).

Simples Nacional

As empresas no regime do Simples Nacional possuem uma série de vantagens tributárias, mas a situação pode se complicar ao investirem em operações financeiras, especialmente na Bolsa de Valores. Embora tecnicamente seja permitido investir, é preciso cautela, pois há riscos e polêmicas sobre os impactos fiscais dessas operações.

Riscos e Implicações ao Investir na Bolsa:

  • Possível Exclusão do Simples: Um dos maiores riscos é que a empresa seja caracterizada como participante societária de outra companhia (ao comprar ações), o que pode resultar na exclusão do regime do Simples Nacional.
  • Complexidade Tributária: Mesmo que os rendimentos financeiros não sejam sujeitos a PIS e COFINS no Simples Nacional, o IR sobre ganhos de capital deve ser apurado e recolhido corretamente.

Recomendações: Dada a complexidade e os riscos envolvidos, não recomendamos que empresas optantes pelo Simples Nacional realizem operações de Bolsa de forma regular ou especulativa. O impacto fiscal pode ser desproporcional ao benefício.

2. Operações de Hedge e Bolsa de Valores

Empresas que realizam operações de hedge precisam ter cuidado adicional, pois essas operações são tributadas de forma diferente. No Lucro Real, o hedge pode resultar em rendimentos financeiros sujeitos a PIS e COFINS, além de IRPJ e CSLL. É importante registrar todas as movimentações e as justificativas para a realização dessas operações, uma vez que o propósito de hedge deve estar claro na documentação.

3. Documentação e Registro Contábil

A correta gestão dos rendimentos financeiros na pessoa jurídica exige atenção à documentação. Cada operação financeira gera documentos que devem ser organizados e mantidos em conformidade com a legislação tributária. O informe de rendimentos, fornecido pelos bancos e instituições financeiras, é um dos documentos mais importantes nesse processo, pois nele constam o rendimento informado à Receita Federal, a base de cálculo do imposto e o imposto retido na fonte.

Nota: O envio do informe de rendimentos para a contabilidade é essencial para garantir que os rendimentos financeiros sejam corretamente informados à Receita Federal e que o imposto retido na fonte seja compensado com o imposto a pagar. Sem esse documento, a contabilidade não consegue fazer as declarações e apurações de impostos de forma correta, o que pode acarretar problemas fiscais e autuações.

4. Planejamento Tributário e Estratégias de Otimização

Empresas podem adotar estratégias de planejamento tributário para minimizar o impacto dos tributos sobre os rendimentos financeiros. Uma abordagem comum é a distribuição de lucros para os sócios, que podem investir os recursos em suas pessoas físicas, onde a tributação sobre rendimentos financeiros pode ser mais vantajosa.

Vantagem da Distribuição de Lucros:

  • Quando os lucros são distribuídos para a pessoa física, não há incidência de CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), o que pode reduzir significativamente a carga tributária.
  • Além disso, a pessoa física não está sujeita ao PIS e COFINS sobre esses rendimentos, o que é outra vantagem comparada à manutenção desses rendimentos na pessoa jurídica.
  • Dependendo do perfil do sócio, a aplicação dos lucros em nome pessoal pode ser mais vantajosa em termos de IR sobre rendimentos financeiros.

Cuidados na Distribuição de Lucros: Ao realizar essa distribuição, é fundamental que as empresas mantenham a documentação em ordem, evidenciando a apuração correta do lucro e respeitando as regras fiscais vigentes.

Conclusão

Cuidar corretamente da tributação dos rendimentos financeiros na pessoa jurídica é uma etapa crucial para garantir a saúde financeira e fiscal da empresa. Além disso, estratégias como a distribuição de lucros para sócios podem ser uma forma inteligente de otimizar a carga tributária, aproveitando-se da ausência de CSLL, PIS e COFINS na pessoa física. Outro ponto importante é que os empresários devem enviar tempestivamente os informes de rendimentos financeiros e outros documentos contábeis para que a contabilidade faça a correta apuração dos tributos e evite problemas fiscais.

Veja também nosso vídeo no Youtube sobre:
Como Evitar Multas da Receita Federal: Dicas Cruciais sobre Tributação de Rendimentos Financeiros
https://www.youtube.com/watch?v=16h2blTukjg

Luis Monteiro
R.Monteiro Serviços Contábeis 
www.rmonteirocontabil.com.br

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